Quem é realmente Antônio Palocci?

por Heitor De Paola em 23 de novembro de 2005

Resumo: Alguém acredita que um trotskista com interesses escusos na guerrilha colombiana e que comandou um governo municipal sob enormes suspeitas, cuja entourage está envolvida em transporte e lavagem de dinheiro de procedência duvidosa, membro de um governo ligado ao Foro de São Paulo, está conduzindo uma economia ortodoxa com as mesmas intenções dos Chicago Boys no Chile de 1973? Ok, tem gente que se orgulha até de acreditar em duendes!

Tenho denunciado, juntamente com outros articulistas do Mídia Sem Máscara, que o “salvador da Pátria via ajuste fiscal”, Ministro da Fazenda Antônio Palocci Filho, não é nada mais, nada menos, que o representante extra-oficial do grupo narcoterrorista colombiano Fuerzas Armadas Revolucionárias de Colombia – FARCno Brasil. E que sua atuação no comando da economia faz parte de um genial plano do Foro de São Paulo para engessar a economia nos falsos eixos em que se encontra, com juros estratosféricos e falências diárias enquanto os bancos lucram como nunca!, para servir de sustentáculo ao projeto totalitário de Fidel, Chávez e Lula para a América Latina. Lenin usou este estratagema com a Nova Política Econômica – NEPcom a finalidade de atrair capitais para a URSS com o objetivo de fazer com que “os capitalistas comprassem a corda com que seriam enforcados”. Deng Zhiaoping, com a mesma intenção, iniciou o plano das “Quatro Modernizações” e seus sucessores o tem empregado com estrondoso sucesso: os idiotas capitalistas ocidentais se encantam com a “liberalização” da China, sem saber – ou sabendo, fingindo ignorância para auferirem lucros exorbitantes, o “negócio da China” – que todo o capital lá investido está sendo empregado para aumentar a capacidade chinesa de ataque nuclear contra os Estados Unidos e nas armas nanotecnológicas. Realmente, “não importa a cor do gato, desde que cace ratos” – e os imbecis ocidentais como têm caçado! Hitler, que também não era bobo, precisava do apoio absoluto dos industriais alemães e dos financistas internacionais. Não deu outra. Colocou à testa do Ministério da Economia do Reich Hjalmar Schacht que, como Comissário da Moeda, tinha posto fim à inflação em 1923 e tinha trânsito livre entre os industriais e financistas alemães e internacionais. Com isto calou a boca de todos e aprofundou a já quase total nazificação da Alemanha em 1934.

É impressionante como as CPI’s que investigam Palocci sequer se interessam em tomar conhecimento das suas relações com as FARC, pois os incansáveis investigadores de Mídia Sem Máscara conseguiram a pérola que se segue e que deveria ser encaminhada às CPI’s se elas realmente estivessem interessadas em descobrir a verdade.

Trata-se de uma matéria de Joel Silva, Free Lancer e Marcelo Toledo da “Folha de Ribeirão” com a colaboração de Evandro Spinelli, de 10 de março de 2002 que só veio a ser divulgado na Internet exatos nove meses depois, em 10 de dezembro do mesmo ano e, num passe de mágica, sumiu até agora. O título é “Ligações Perigosas”, com sub-título: Grupo quer divulgar "causas" das FARC. Secretário de petista lança comitê de apoio a guerrilha colombiana. Segue o texto completo da reportagem, com ênfases minhas:

“Um dos secretários do prefeito de Ribeirão Preto e coordenador do programa de governo do pré-candidato à Presidência do PT Luiz Inácio Lula da Silva, Antônio Palocci Filho, vai lançar um comitê pró-Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no município. O secretário é o ex-vereador Leopoldo Paulino (PSB), que compõe a base de apoio do prefeito de Ribeirão. As Farc são o maior grupo guerrilheiro colombiano, com cerca de 17 mil homens. São responsáveis por centenas de seqüestros em 2001. Foram atribuídos ao grupo mais de 1.700.

O escritório será lançado oficialmente no dia 20, na Câmara de Ribeirão. A sede será o Templo da Cidadania, instituição cultural sem fins lucrativos, da qual Palocci é membro fundador. Também fazem parte do grupo, que deve se chamar Comitê de Solidariedade ao Povo Colombiano e aos Movimentos de Libertação Nacional, os vereadores governistas Beto Cangussú (PT) e José Antônio Lages (PDT) e o médico petista Edmundo Raspanti, diretor do MIS (Museu da Imagem e do Som) de Ribeirão.

Parte do comitê diz que quer defender as causas das Farc, mas não sua violência. ‘A idéia é que a gente possa divulgar ao máximo em todas as partes do Brasil a situação do povo colombiano e as verdadeiras causas da luta das Farc contra o governo local’, afirmou Cangussú. Paulino, no entanto, é radical: ‘Não acho que é a eleição que vai resolver, é a revolução. Hoje no Brasil não há condição de fazer uma revolução armada, mas na Colômbia não é assim. Eles têm um exército organizado’.

Palocci e Luiz Inácio Lula da Silva não foram encontrados para falar sobre o assunto ontem. O comitê vai colher assinaturas pró-Farc e defender as posições do grupo guerrilheiro no Brasil. No lançamento, um guerrilheiro deve estar presente. ‘Precisamos difundir e abrir comitês das Farc no mundo inteiro sobre os problemas que ocorrem naquele país’, disse Cangussú.

Para ‘selar a união’, houve uma reunião em Ribeirão Preto entre Paulino e Olivério Medina, porta-voz informal das Farc no Brasil, que chegou a ser preso em 2000 em Foz do Iguaçu (PR), a pedido do governo colombiano, acusado de atividades terroristas.

‘Se conseguirmos passar algo para a população, vamos prestar um serviço à mente das pessoas’, afirmou o advogado Vanderley Caixe, um dos fundadores das FALN (Forças Armadas de Libertação Nacional), grupo guerrilheiro que atuou entre 1967 e 1969.

A assessoria de imprensa do Itamaraty informou que o órgão não se manifesta sobre questões internas, mas afirmou que o Brasil apóia o governo do presidente colombiano, Andrés Pastrana, que foi eleito democraticamente. As lideranças políticas do PT, PSB e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra ) contam com posições divergentes sobre a criação do comitê. A deputada federal Luiza Erundina (PSB) disse que é contrária à forma de luta das FARC e que acha ‘meio estranho’ o secretário Leopoldo Paulino, de seu partido, organizar um comitê de apoio ao grupo guerrilheiro. ‘Não tenho muita ligação com ele, Paulino, e não sei quais são as razões dele’, disse Erundina. O líder do MST José Rainha Júnior disse que é solidário ao povo colombiano. ‘Eles estão sendo massacrados pela mão do imperialismo norte-americano’.

Para a cônsul-geral da Colômbia em São Paulo, Marta de Arevalo, ‘é muito estranho alguém se solidarizar com foras-da-lei, as Farc’. O caso será levado ao conhecimento da embaixada colombiana no Brasil”.

Note-se que a data da publicação 10 de março de 2002 corresponde ao pleno avanço da campanha de Lula à Presidência e um mês depois de Palocci ter assumido a chefia da campanha, após a morte suspeita de Celso Daniel. Correspondeu também à “virada” para o "Lulinha Paz e Amor". Será que não tem aí alguma relação com a denúncia de Veja sobre os dólares de Cuba, que certamente não vieram daquela ilha miserável do Caribe, mas desconfia-se que das FARC? Não estará aí a “conexão FARC” para a campanha de Lula? Note-se, também, que a reportagem ficou restrita a um jornal interiorano até 10 de dezembro, quando o candidato do Foro de São Paulo – e das FARC – já tinha sido eleito Presidente. Evandro Spinelli, colaborador da matéria, é jornalista experiente e participou do depoimento do assessor de Palocci na Prefeitura, Rogério Buratti,  e foi o primeiro a noticiar o acordo entre o Ministério Público e Buratti, confirmado uma hora depois. Segundo Spinelli, a campanha de Palocci à Prefeitura, em 2001, foi coordenada pelo mesmo marqueteiro de Lula, Duda Mendonça. Spinelli confirma ainda o conteúdo daquela reportagem que pode ser lida em http://www.jornalacidade.com.br/geral/ver_news.php?pid=35&nid=19787

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Na juventude, ao cursar medicina na USP de Ribeirão Preto, Palocci militou na Libelu, corrente trotskista de extrema esquerda e jamais rejeitou suas idéias comunistas. Não parece estranho que tenha, como Ministro, subitamente se transformado no paladino da ortodoxia econômica capitalista? Palocci precisava de um assessor internacionalmente aceito e o encontrou para a Presidência do Banco Central, Henrique Meirelles, ex-Presidente do BankBoston e representante dos financistas e dos metacapitalistas internacionais, como o fora o “Soros Boy” Armínio Fraga, para o governo tucano, aliado do atual através do Diálogo Interamericano [1] é aí que reside a explicação para o lucro exponencial dos banqueiros, pois Meirelles nada mais é que um representante dos mesmos. Não é à toa que o PT fez de tudo para blindá-lo contra as acusações de corrupção, conseguindo de um Congresso de poltrões e corruptos, sua elevação para o nível ministerial o que o afasta de processos nas instâncias inferiores da justiça. Não seria de investigar também se sua nomeação não se deveu a algum "recurso não contabilizado" (a criatividade espertalhona e canalha dos petistas é ilimitada), enviado pela banca mundial?

Segundo o jornalista Ronaldo Brasiliense (jornalista paraense, foi chefe da sucursal da Veja na Amazônia, repórter especial do Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo e IstoÉ e colunista do Correio Braziliense), nos últimos 11 anos o Brasil pagou mais de R$ 750 bilhões de juros da dívida externa. E somente o governo Lula, nos seus pouco mais de mil dias, pagou quase R$ 300 bilhões de juros, engordando as contas dos grandes agiotas internacionais: os banqueiros, o FMI e o Banco Mundial. A pergunta que não quer calar, no caso, é: se o Brasil, em 11 anos, pagou mais de R$ 750 bilhões em juros da dívida externa, de quanto é o principal dessa dívida? Até quando o Brasil terá que pagar R$ 100 bilhões/ano (média do governo Lula) para ficar livre dessa praga?” .

Ao mesmo tempo, o poder militar do Brasil se deteriora a um ponto em que em breve não teremos mais Forças Armadas, mas forças desarmadas. As últimas notícias sobre a Marinha dão conta de que sem dinheiro, ela é obrigada a sucatear recorrendo à "canibalização" de antigos navios para manter a Esquadra, de forma precária, em funcionamento. Nos últimos cinco anos a Força teve que desativar 21 navios e nove aeronaves, tendo incorporado, no mesmo período, apenas oito embarcações. Por causa da crise, metade dos navios e submarinos encontra-se imobilizada e apenas 40% de suas aeronaves estão em condições de vôo. O estudo feito pela própria Marinha mostra que, se nada for feito a partir de 2006, em menos de 20 anos a Esquadra poderá se extinguir, comprometendo as atividades de proteção das plataformas de petróleo e também do mar territorial, as ações de socorro e salvamento no mar e o programa Antártico. Estaria cumprindo, assim, a estratégia do Diálogo Interamericano de liquidar com as Forças Armadas da América Latina e sua transformação em forças policiais regionais do governo mundial da ONU (ver matérias já publicadas e meu próximo A Colheita II – O Diálogo Interamericano).

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Repito pela enésima vez: quando dois comunistas brigam em público estão combinados para iludir os adversários. É o que está ocorrendo na falsa contenda Dilma Roussef x Antonio Palocci, uma nova tática de tesoura para atrair apoios para os dois. Em qualquer dos casos, ganha o Foro de São Paulo. Divide et impera! Ninguém usa melhor esta máxima romana do que os comunistas. Sofrendo o ataque da “esquerda” Palocci atrai instantaneamente o apoio de economistas liberais que se prendem exclusivamente aos aspectos econômicos ortodoxos empregados. Affonso Celso Pastore chega a exclamar (Globo de 22/11) que “Só a miopia de uma esquerda burra é que não consegue ver esse efeito”, ao que eu revido: somente a cegueira de uma direita imbecil, que se prende exclusivamente aos aspectos econômicos, é que não enxerga que além da economia existe uma política e uma estratégia ideológica.

Ora, se o PT estivesse realmente interessado em liberar a economia, seguir-se-iam à ortodoxia monetarista outras medidas, no mínimo duas: desestatização e desregulamentação. Só aí o gasto do governo cai de verdade; fora disto continuará havendo aumento de gastos, como o diz Ilan Goldfajn (na mesma edição de O Globo), a despesa primária do governo central, que não considera os gastos com os juros, está crescendo 8% ao ano acima da inflação, portanto não está havendo corte de gastos coisa nenhuma. Na edição de 23/11 aparece claramente a farsa: os gastos de pessoal do MEC - pessoal em quase permanente estado de greve, diga-se! - aumentaram em 2 bilhões de reais desde 2001; Duda Mendonça, que deveria estar impedido de negociar com o governo até o esclarecimento dos gastos de campanha e na cadeia por ter sido flagrado em rinhas de galo, teve seu contrato com a PETROSSAURO renovado, serão mais de 63 milhões até 2007! Goldfajn complementa “Esse é um ritmo insustentável: em 10 anos as despesas mais do que dobrariam em termos reais”, e para arrematar, “como o governo não cria recursos, maiores gastos significam maior carga tributária. Não adianta se iludir. Se a carga tributária não subir imediatamente, haverá um déficit que aumentará a dívida que terá que ser paga no futuro, com juros e correção monetária. No futuro haverá mais juros, impostos e limites aos gastos”.

Alguém acredita que um trotskista com interesses escusos na guerrilha colombiana e que comandou um governo municipal sob enormes suspeitas, algumas já provadas, cuja entourage está confessadamente envolvida em transporte e lavagem de dinheiro de procedência duvidosa (ou garantida?), membro de um governo ligado ao Foro de São Paulo – está conduzindo uma economia ortodoxa com as mesmas intenções, digamos, dos Chicago Boys no Chile de 1973? Ok, tem gente que se orgulha até de acreditar em duendes!

A hipótese que eu defendo é que a economia é o meio pelo qual o PT vai se mantendo no poder, já que tudo o mais está desacreditado à direita ou à esquerda, para cumprir a estratégia de gradualismo [2] na tomada do poder total no Brasil. Portanto, seu Pastore, além da esquerda burra e da direita imbecil, existe uma direita esclarecida que não se prende ao economicismo e, entre Palocci e Dilma, fora com os dois e seus asseclas!



[1] Para mais informações sobre o Diálogo Interamericano acesse:

Foro de São Paulo e Diálogo Interamericano: pacto firmado em 1993.

O Diálogo Interamericano e as Forças Armadas dos Países Periféricos.

Uma questão de metodologia - Parte II.

[2] Em A Colheita I

 
O autor é escritor e comentarista político, membro da International Psychoanalytical Association e Clinical Consultant, Boyer House Foundation, Berkeley, Califórnia, e Delegado Internacional no Brasil do Drug Watch International. Possui trabalhos publicados no Brasil e exterior. E é ex-militante da organização comunista clandestina, Ação Popular (AP).